Espaço

“É evidente que qualquer que seja o sucesso que a fotografia possa ter quanto a uma estrita imitação dos jogos de luz e sombra, não é menos impotente na restituição de um verdadeiro chiaroscuro ou na verdadeira imitação da luz e da obscuridade. E mesmo se o Mundo onde estamos, em vez de se mostrar aos nossos olhos com todas as variedades duma paleta colorida, fosse constituído apenas por duas cores – o preto e branco com todos os seus graus intermédios – e se todas as figuras fossem vistas em monocromo, como as observadas por Berlin Nicolai, com os seus problemas de visão, mesmo assim a fotografia não poderia ainda copiá-las correctamente. A Natureza, devemos lembrar-nos, não é apenas feita de luzes e sombras verdadeiras, directas; por detrás destas massas elementares possui inúmeras luzes e meias tintas reflectidas, deslocando-se em torno de cada objecto, arredondando as arestas mais afiadas, iluminando as zonas mais sombrias, dando o brilho do Sol aos lugares de sombra, e que todo o pintor experimentado se dedica na sua restituição”. Lady Elizabeth Eastlake.

Privado de Luz

“Qual o conteúdo da mensagem fotográfica? O que é que a fotografia transmite? Por definição, a própria cena, o real literal. Do objecto à sua imagem, há certamente redução: de proporção, de perspectiva e de cor. Mas esta redução não é uma transformação (no sentido matemático do termo). Para passar do real à sua fotografia, não é necessário dividir esse real em unidades e constituir essas unidades em signos diferentes, substancialmente, do objecto que dão a ler; entre esse objecto e a sua imagem, não é necessário dispor de uma ligação, quer dizer, dum código; claro que a imagem não é real; mas é contudo o seu analogon perfeito, e é precisamente esta perfeição analógica que, ante o senso comum, define a fotografia. É assim que surge o estatuto particular da imagem fotográfica: é uma mensagem sem código”. Roland Barthes.

Forma

“Esta génese automática alterou radicalmente a psicologia da imagem. A objectividade da fotografia confere-lhe um potencial de credibilidade ausente de toda a obra pictural. Quais sejam as obrigações do nosso espírito critico, somos obrigados a crer na existência do objecto representado, quer dizer, tornado presente no tempo e no espaço. A fotografia beneficia de uma transferência de realidade da coisa para a sua reprodução.” André Bazin.

32 degraus

“A originalidade da fotografia em relação à pintura reside na sua objectividade essencial. Assim como o grupo de lentes que constitui o olho fotográfico, por substituição ao humano, se chama precisamente “objectiva”. Pela primeira vez, entre o objecto inicial e a sua representação, apenas se interpõe um outro objecto. Pela primeira vez, uma imagem do mundo exterior forma-se automaticamente sem intervenção criadora do homem, segundo um determinismo rigoroso (…). Todas as artes foram fundadas com base na presença do homem; na fotografia desfrutamos da sua ausência. Ela age sobre nós enquanto fenómeno “natural”, como uma flor ou um cristal de neve, cuja beleza é inseparável das origens vegetais ou telúricas”. André Bazin.

Movimento da Textura

“O primeiro efeito que se experimenta olhando uma boa fotografia por meio de um estereoscópio é de uma surpresa tal, que nenhuma pintura jamais pôde provocar algo de parecido. O espírito avança no interior da profundidade da imagem. Os ramos descarnados de uma árvore em primeiro plano dirigem-se-nos como se quisessem arrancar-nos os olhos. O cotovelo duma figura desloca-se de tal modo que nos incomoda. Há igualmente uma quantidade tremenda de detalhes, a tal ponto que experimentamos a mesma sensação duma complexidade infinita como perante a Natureza. Um pintor apenas nos mostra o geral; a figura estereoscópica não esquece nada – tudo é exactamente captado, cada ramo, ornado de folhas secas, um esboço, são para ela tão autênticos e reais como a cúpula de São Pedro, ou o cume do Monte Branco, ou a tranquilidade sempre movente do Niagara. O sol não prefere as pessoas às coisas”. Olivier Wendell HOLMES.