segunda-feira, outubro 02, 2006

Paralelas


“A aventura da fotografia começa com as primeiras tentativas do homem no sentido de reter uma imagem, que tinha aprendido a formar desde longa data (e sem dúvida os astrónomos árabes utilizavam a câmara obscura desde o século XI para observar os eclipses do Sol). Esta longa familiaridade com a imagem assim obtida, e o procedimento objectivo, e por assim dizer automático, estritamente mecânico em todo o caso, do processo de impressão, explica que a representação fotográfica pareça geralmente uma coisa natural e não se tenha em conta o seu carácter arbitrário, altamente elaborado (…). Esquece-se que a imagem que os primeiros fotógrafos pretenderam captar, e a própria imagem latente que souberam revelar e desenvolver, não têm nada de natura: porque os princípios que presidem à construção de um aparelho fotográfico – e desde logo o da câmara escura – estão ligados a uma noção convencional do espaço e da objectividade, elaborada previamente à invenção da fotografia, a que os fotógrafos, na sua maioria, se conformaram. A objectiva, ela própria, de que se corrigiram aplicadamente as “aberrações” e se rectificaram os “erros”, não é tão objectiva quanto parece: digamos que satisfaz, pela sua estrutura e pela imagem ordenada do mundo que permite obter, um sistema de construção do espaço particularmente familiar, mas bem antigo e carunchoso, a que a fotografia terá conferido, próximo do seu esgotamento, uma conquista de actualidade inesperada”. Hubert Damisch.