segunda-feira, fevereiro 20, 2012

A tempestade

"Há portanto essa fotografia do vietnamita em lágrimas, debaixo de um guarda-chuva ( ... ). E é verdade que 'a grande angular trabalha aqui em benefício do humanismo de lágrima no olho; isola o personagem, a vitima, na sua solidão e na sua dor' (Bergala) ... Contudo, nesta fotografia, qualquer coisa permanece, resiste à análise, indefectivelmente. É que ao lado, por sobre as palavras 'humanismo de lágrima no olho', há ainda o vietnamita que chora: a despeito da encenação, a despeito do enquadramento, da enunciação fotográfica e jornalística (porcaria de jornalista!), há o enunciado das lágrimas ( ... ). Indefectivelmente, o enunciado mudo da fotografia torna-se, enigmático, no acontecimento obscuro desta dor apreendida por um objectivo mercantil, a singularidade das lágrimas vem, sem barulho, propor-se à meditação. Um outro texto surde então da mesma imagem ( ... ). É nisso, ainda que saindo dos mesmos códigos de representação (câmara escura, etc .), que a fotografia não tem nada a ver com a pintura: o modo como o objecto é capturado é completamente outro. O objecto não grita do mesmo modo numa tela que numa fotografia ( ... ). (A fotografia) é, antes e mais nada, uma retirada directa de real que a química faz aparecer. Isso muda tudo ... " Pascal Bonitzer